domingo, 6 de abril de 2014

Conflito, a gênese da criação.

Após mais de 200 anos do nascimento de Charles Darwin, e ao escrever sobre evolução, Darwin ilustrou, creio, uma verdade sobre o caráter humano:

"Não é a espécie mais forte que sobrevive, nem é a mais inteligente que sobrevive, mas é aquela que é mais adaptável à mudança."

Note, portanto, que é justamente no "conflito" que está a gênese da criação.

A partir do trabalho de Darwin, entre outros, nós podemos reconhecer que a capacidade humana de sobreviver e florescer é movida pela luta do espírito humano através do conflito para a transformação.

Portanto, mais uma vez, transformação e adaptação, são as nossas maiores habilidade como humanos. E, talvez, até que sejamos testados, não sabemos do que somos feitos ou capazes.  Talvez é isso que a adversidade nos dá, uma sensação de quem somos e uma percepção de nosso próprio potencial.

Podemos, então, nos dar um presente: nós podemos imaginar novamente a adversidade como algo mais do que apenas "tempos difíceis". Talvez possamos vê-la como uma "mudança". 

A habilidade humana de se adaptar, é uma coisa incrível, porque as pessoas sempre apontam para "superação" da adversidade.  Digo, no entanto, que nunca gostei dessa frase (ie. superação da adversidade), e eu sempre me senti desconfortável tentando responder as perguntas que as pessoas faziam sobre isso.

Começo a descobrir o por quê de tudo isto. Implícita nesta frase de "superar a adversidade", temos a idéia de que o sucesso, ou a felicidade, remete a ideia de emergir do outro lado de uma experiência desafiante incólume ou não, marcado pela experiência, como se meus sucessos na vida surgiram a partir de uma habilidade de evitar ou dar a volta nas pretensas armadilhas impostas pela vida, ou aquilo que outras pessoas percebem como minhas incapacidades.  Na verdade, o que acontece é que nós somos "mudados" por estas dificuldades.

Somos marcados, sem dúvida, por um desafio, quer físico, emocional, intelectual ou profissional.  E eu vou sugerir aqui que isso é uma coisa "boa".

A adversidade não é um obstáculo que necessitamos evitar a fim de continuar vivendo nossas vidas.  Ela é parte de nossa vida.  E eu costumo pensar nela como minha sombra. Às vezes eu vejo muito dela, outras vezes vejo bem pouco, mas ela está sempre comigo.  E com certeza, eu não estou tentando diminuir o impacto ou o peso da luta de uma pessoa.

Podemos definir adversidade como sendo apenas uma mudança para a qual nós ainda não nos adaptamos.

Seremos confrontados com adversidade e desafios durante toda a nossa vida, e isso é um fato inevitável e muito relativo de pessoa para pessoa, mas a questão não é se você vai ou não encontrar a adversidade durante sua "caminhada", mas como você vai enfrentá-la.

Portanto, nossa responsabilidade não é meramente proteger nossos entes amados da adversidade, mas prepará-los para que saibam enfrentá-la de frente.

Em nosso desejo de proteger aqueles que amamos, apresentando-lhes a verdade, nua e crua, sobre suas fraquezas, ou, na verdade, um prognóstico sobre as consequências de uma vida que podemos esperar, precisamos ter a certeza de não assentar o primeiro tijolo em uma parede que irá, em vez de fortalecer, na verdade irá incapacitar.  Talvez o modelo existente de olhar apenas para o que está defeituoso, e como consertamos isso, serve para ser ainda mais incapacitante para o indivíduo do que a própria incapacidade.

Então, não é uma questão de desvalorizar, ou negar esses momentos mais difíceis, como se fosse algo que queremos evitar ou varrer para debaixo do tapete, mas sim encontrar aquelas oportunidades envoltas na própria adversidade.

Assim, talvez a ideia não é tanto superar a adversidade, mas abraçando-a, agarrando-a, talvez até dançando com ela, e talvez, se enxergarmos a adversidade como sendo natural, consistente e útil, seremos menos sobrecarregados pela sua presença.

Se pudéssemos dar a alguém a chave de seus próprios poderes, o espírito humano é tão receptivo, se você puder fazer isso, e isto abrir uma porta para este alguém, mostrado a epifania do seu próprio poder, em um momento crucial ou crítico, você estará educando a pessoa, no melhor sentido da palavra. Você estará, portanto, ensinando a pessoa a abrir portas para "ela mesma".

Na verdade, o significado exato da palavra educar vem da raiz "educe" Que significa gerar o que está dentro, revelar o potencial.

Portanto, se conseguirmos fortalecer o espírito humano para manter a esperança, para ver a beleza em si mesmo e nos outros, para ser curioso e imaginativo, então estaremos realmente usando nosso poder para o bem.  Quando um espírito tem essas qualidades, nós somos capazes de criar novas realidades, e novas maneiras de "ser".